quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Água de Chuva e Esgoto

clique na figura para ampliar:
Boca de Lobo de Guia
Boca de Leão ou Grelha
Bocas de Lobo e Grelha Conjugadas
Bueiro: passagem que é construída por tubos ou galerias para a passagem da água (da chuva, de rios e de esgoto) por baixo de rodovias e ferrovias.
Tampa de um Poço de Visita de Rede de Drenagem - Tem furos:
Tampa de um Poço de Visita de Rede de Esgoto - Não tem furos por causa dos gases do esgoto:

Para saber mais:

Manual de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais (PMSP, 2012)
Apostila de Microdrenagem Urbana (FAU-USP, 2015)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Pirâmide Etária do Brasil

link: Retroprojeção da População do Brasil por sexo e idade: 2000-1980

Proporção da população, por sexo e idade. Brasil, 1980-2030


Taxas de Fecundidade Total. Brasil, 1980-2030

Número médio de filhos nascidos vivos, tidos por uma mulher ao final do seu período reprodutivo, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.




Esperança de vida ao nascer. Brasil, 1980-2030



Além do Mapa

Link: Beyond the Map

Tela Inicial:
A experiência do Vídeo em 360° (clique nas figuras para ampliar)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Mais de 70 satélites de posicionamento global estão em órbita.

by Instituto GeoEduc

VOCÊ SABIA QUE ESTÃO EM ÓRBITA SOBRE NOSSAS CABEÇAS EXATOS 74 SATÉLITES DE POSICIONAMENTO GLOBAL? E VOCÊ NOTOU QUE O SISTEMA NORTE-AMERICANO GPS JÁ NÃO REINA ABSOLUTO NOS CÉUS?



Com os lançamentos realizados no final de março de 2015, a “constelação” do sistema russo Glonass passou a possuir 28 satélites, sendo 24 operacionais. Já o GPS conta com 32 veículos em órbita, com 30 operacionais. Por sua vez, o sistema europeu Galileo chegou a 8 satélites, com 4 operacionais e o chinês Beidou já possui 17, sendo 16 operacionais.

Toda essa variedade de satélites para posicionamento e navegação ao redor do globo só melhoram a precisão e acurácia do trabalho dos profissionais de geotecnologia em solo, já que fornecem mais opções, principalmente se levarmos em conta locais com problemas para recepção de sinais, como por exemplo em áreas urbanas.

ENTENDENDO O GNSS

Mas, afinal, pra que tanta sigla? Apesar de popularizados com o termo genérico “GPS”, na verdade todos estes sistemas fazem parte de um grande grupo chamado de GNSS (Global Navigation Satellite System). Considera-se que, para ter cobertura global, uma constelação de satélites possua um número mínimo de satélites posicionados em órbita de forma que um receptor sobre a superfície terrestre possa sempre detectar pelo menos quatro satélites acima do horizonte. Nos sistemas GNSS, três satélites são suficientes para determinar as coordenadas do receptor em solo, enquanto o quarto satélite é utilizado para sincronizar o tempo.

REDES GNSS DE MONITORAMENTO CONTÍNUO

Em 2014 a Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC) dos sistemas GNSS passou a contar com mais de 100 estações, o que foi considerado um marco para o setor de Geodésia no Brasil. Cada estação da RBMC é equipada com um receptor GNSS conectado a um link de internet, através do qual os dados são disponibilizados gratuitamente no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fruto da parceria de dezenas de instituições públicas, dentre as quais destacam-se IBGE, INCRA e INPE, a RBMC é a estrutura geodésica de maior importância para o país.

Novas instituições estão entrando nesta parceria, como por exemplo a Universidade do Estado do Amazonas(UEA), contribuindo com mais estações no estado do Amazonas e o Observatório Nacional, através da cessão dos receptores GNSS.

Hoje, com mais de 110 estações, obtém-se o acesso ao sistema SIRGAS2000 em levantamentos realizados tanto no modo pós-processado quanto em tempo-real.

Destas estações, 92 operam também em tempo real através do serviço RBMC-IP, no qual dados e correções aos dados são disponibilizados via protocolo de Internet conhecido por NTRIP (Networked Transport of RTCM via Internet Protocol), sendo destinado a aplicações em tempo real para usuários que fazem uso da técnica RTK (relativo cinemático em tempo real) nos seus levantamentos.

Através das informações geradas pela RBMC podem-se obter coordenadas geográficas (latitude, longitude e altitude) com precisão de poucos centímetros, necessária para diversas aplicações e atividades profissionais que são realizadas em diferentes áreas, por exemplo, na engenharia, na navegação aérea e marítima, nos cadastros rural e urbano, agricultura de precisão, entre outras. Por isso, a RBMC, em operação desde 1996, tem sido uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento das Geotecnologias no Brasil.


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Rios Des.Cobertos

Montagem do protótipo
O projeto expositivo Rios Des.Cobertos é resultado do trabalho em conjunto entre o Estúdio Laborg e a Iniciativa Rios e Ruas, que pretende apresentar ao público a extensa bacia hidrográfica da cidade de São Paulo, em quase sua totalidade já escondida e coberta por ruas e avenidas, por meio de uma maquete interativa, a fim de problematizar o processo de urbanização das grandes metrópoles e as transformações ocorridas em suas hidrografias originais, além dos possíveis problemas enfrentados pelo desenvolvimento das cidades e pelos indivíduos que nela habitam.
Rios Des.Cobertos é uma exposição totalmente interativa composta por uma maquete e painéis/totens que convidam o público a descobrir os cursos d’água que correm pela capital paulista e a complexidade de sua geografia, cheia de vales e colinas. O público pode manusear os elementos para “montar” sua própria exposição.

Ao interagir com a maquete (foto) e os totens, todos compreenderão as condições naturais da metrópole, já que a exposição oferece experiências sensoriais que tornam o ambiente lúdico e incentivam o aprendizado com total liberdade de escolha em relação ao que se quer/pode descobrir. A intenção é mostrar que os rios estão vivos e convidar todos a se aproximarem deles, olhá-los e refletirem.

“A maquete em 3D é um passo enorme no nosso projeto porque, com ela, revelamos a tridimensionalidade da cidade e isso ajudará as pessoas a entender o que aconteceu com São Paulo e seus rios”, ressalta Bueno. “Com a maquete, a gente mexe no imaginário e convida os participantes a desenvolver o apreço, o amor, o afeto e o interesse pelas águas da cidade”.

Para a confecção da maquete foram utilizadas placas de MDF que, cortadas a laser, minimizam o desperdício. Além disso, as sobras foram devolvidas para o fabricante para reutilização. Produzidos com um tipo de papelão especial (que é um material reciclado e reciclável), os painéis expositivos geraram pouquíssimas sobras. Ou seja, a sustentabilidade ambiental do projeto não foi esquecida.
“O que a gente quer não é só mostrar que há rios vivos na cidade. Essa etapa está se cumprindo desde o início do nosso trabalho. O que a gente quer, mesmo, é mexer na cara da cidade, trazer esses rios de volta para a convivência com as ruas, com as pessoas, com a cidade – se não todos os rios, pelo menos alguns!

A gente está falando de mudar algo muito profundo na genética da cidade de São Paulo, uma cidade que, desde o início, ‘optou’ por abandonar sua relação com os rios. A gente tá mexendo com isso. Será que não é possível ter esses rios de volta? Será possível coexistir com essa natureza exuberante da cidade?

Se fizermos uma pequena intervenção – que é parte de nossa intenção maior -, se a gente conseguir, em alguns anos, redesenhar a cidade, um pequeno trecho urbano, revitalizar um rio, trazê-lo à luz novamente, mesmo que seja em um trecho pequeno e mostrar para os paulistanos que é possível…

Existe tecnologia pra isso. E, se for possível trazer um rio de volta, em 200 metros da cidade, será possível em qualquer outro lugar. E mais do que isso! Sabe o que a gente quer? A gente quer que São Paulo seja uma inspiração, um modelo de desenvolvimento harmônico para outros municípios. Quem sabe para os 5 mil municípios do Brasil!

Aí, sim, todo esse trabalho vai se tornar exemplar. Ou seja, a gente está trabalhando no pior lugar do mundo, no lugar que mais castigou suas águas, mas talvez seja daqui mesmo que saia a cura. Que saia a mudança de modelo para o Brasil inteiro. E isso será feito pelas pessoas.

Estamos atrasados porque o mundo já está dando exemplos de que isso é possível, que é possível recuperar os rios que sofreram com a canalização. Mas este é o nosso ritmo. E temos as bençãos dos nossos rios. Costumamos dizer que quem está nos protegendo nessa trajetória são os grandes orixás. São esses grandes seres que estão abençoando nossa jornada a favor da natureza e da vida”.

Do arquiteto José Roberto Bueno e do geógrafo Luiz Campos Jr., do projeto Rios e Ruas.
Rios Des.Cobertos
SESC VILA MARIANA
Rua Pelotas, 141
Horário de funcionamento: Terça a sexta 7h às 21h30 Sábados 9h às 21h Domingos e feriados 9h às 18h30
A exposição consiste numa maquete e num painel que controla um projetor que incide sobre a maquete
Painel de controle dos vídeos que interagem com a maquete em mdf.
Os rios "descobertos"
Os rios "descobertos" e os rios "cobertos".

Aqui passa um rio. E ele está vivo

extraído do site Brasileiros

Um movimento de resgate das fontes, córregos e rios ganha força na cidade de São Paulo. Ele se manifesta na forma de ações que mudam a relação dos paulistanos com as águas e fazem emergir o desejo de viver numa cidade sustentável

artigo de Mônica Tarantino


Na esquina das ruas Dr. Seng com Rua Rocha, no bairro do Bixiga, no centro de São Paulo, alguma coisa está fora da ordem. Sob o nome do logradouro, com a mesma letra, mas com menor destaque, lê-se: Bacia do rio Saracura. Que rio é esse? Bem, a placa é apenas um dos sinais do conjunto de iniciativas em torno da água que se espalha pela cidade, em especial depois do colapso hídrico de 2014.

Elas são a matéria-prima de uma nova narrativa que está nascendo a partir de intervenções de artistas, geógrafos, arquitetos, coletivos, organizações e simpatizantes de todas as idades. Uma das ações mais conhecidas são os festivais da Praça Homero Silva, rebatizada de Praça da Nascente, no bairro da Pompeia, na zona oeste de São Paulo, realizados anualmente pelo coletivo Ocupe & Abrace, que reúne moradores e ativistas. Com música, comida e grande diversidade cultural, o evento deu visibilidade ao movimento que recuperou o local e criou laguinhos com plantas e peixes, aumentou a segurança, a frequência e fez aparecerem, enfim, recursos públicos para uma reforma.

A água também é o alvo de grupos com nomes sugestivos como Aqui Passa um Rio, Rios (In)Visíveis, NascenteSP, Hortelões das Nascentes e Existe Água em SP, entre outros, e de blocos carnavalescos, como Peixe Seco e Água Preta (segue o percurso do rio homônimo). E não é só em São Paulo que as águas estão em evidência. Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife têm seus movimentos de revitalização dos rios.

Voltando à placa da Dr. Seng com a rua Rocha, o adendo não é obra do poder público, que evitou sancionar um projeto para agregar esse tipo de dado. A observação sobre a Bacia do Saracura chegou ali na forma de um adesivo – impresso pelos ativistas Luiz de Campos, geógrafo, e José Bueno, arquiteto – fixado durante uma expedição guiada pela dupla que percorreu a região em busca de fontes e córregos sob o asfalto. “Essa é uma área repleta de nascentes que se encontram para formar os córregos Saracura Pequeno e Grande. Eles se unem na altura da Praça 14 Bis e formam o rio Saracura, escondido sob a avenida 9 de Julho”, explica Campos. É a tal Bacia do Saracura.

“FOMOS EDUCADOS PARA NÃO VER ÁGUA EM SÃO PAULO, MAS EXISTE MUITA ÁGUA AQUI” – LUIZ DE CAMPOS, geógrafo, da iniciativa Rios & Ruas

“Não falta água em São Paulo, o que falta é a percepção dela”, assegura o arquiteto Bueno. Em 2010, ele conheceu Campos e ficou muito impressionado com as revelações sobre a rica rede de rios subterrâneos da cidade. Bueno, que também é educador e mestre de aikidô, viu aí uma oportunidade para vivenciar o aprendizado e a emoção em tempo real. “Sério que São Paulo tem mais de 300 rios escondidos? Rola de ir até um deles?”, perguntou. Campos levou-o para dar uma volta pelos arredores do local onde mora, no Butantã, com a intenção de acompanhar o trajeto de um pequeno córrego, da nascente à foz.

“Estudo o assunto desde 1995, quando ouvi de um colega de faculdade que havia muito mais água aqui do que se podia imaginar. Não acreditei e fui pesquisar”, diz o geógrafo. Durante o passeio, Campos foi explicando ao amigo novato que precisava educar o olhar para ver a natureza por baixo do asfalto – as ruas sinuosas, as vielas, os bueiros, as pequenas matas de taioba que crescem em terreno molhado, indícios de um rio coberto. Num dado momento, o geógrafo enfiou a mão na terra úmida, virou, mexeu e achou um veio do Iquiririm (rio silencioso, em língua tupi). “Encontramos a primeira nascente a 300 metros da minha casa, e depois muitas outras”, conta Bueno. Quatro anos depois, os dois voltaram à região com um mutirão para abrir o veio d´água, plantar em volta, colocar peixes. Com a mudança, sapos e pássaros retornaram ao lugar, que se transformou em uma área de piquenique e passeio. “Agora, vamos fazer calçadas”, diz Campos.



Em 2010, o arquiteto e o geógrafo fundaram a iniciativa Rios & Ruas, que procura religar os paulistanos com as águas da cidade e sua história promovendo atividades prazerosas. Vale colar adesivo em placa, fazer expedições, documentários, escavações de nascentes e até correr – em 2014, a dupla inventou um circuito de corrida de rua que passa pelas nascentes do rio Ipiranga, pelo centro histórico, Vale do Anhangabaú e margens do Tietê. A prova está na terceira edição. “Fomos educados para não ver água em São Paulo, mas existe muita água aqui”, diz Campos. Outro conceito que norteia a dupla é a necessidade de trazer os rios à tona, para serem usufruídos, e assim mudar o mapa da cidade. “Mas, antes, os rios têm que ficar limpos na cabeça das pessoas”, diz Bueno.

“EM VEZ DE TERMOS 80 % DE UMIDADE RELATIVA DO AR, O QUE SERIA NORMAL, EM SÃO PAULO AS ILHAS DE CALOR FAZEM A UMIDADE CAIR A 15%” – TÂNIA PARMA, arquiteta e urbanista

Além da revitalização das nascentes e dos rios, os defensores das águas se empenham em fazer vir à tona as informações sobre os cursos d’água e as redes de abastecimento e tratamento de esgotos. “Antes de 2012, quando a prefeitura publicou o primeiro mapa atualizado da rede hidrográfica, não havia nada. A gente desenhava o percurso dos rios a partir de mapas mais antigos e do que via”, conta o geógrafo Luiz de Campos. Desse mapa oficial constam 286 cursos d’ água nomeados dentro do município.

Hoje, porém, Campos acredita que podem existir mais de 600 córregos e rios em São Paulo. A necessidade de compartilhar tudo que aprenderam em seis anos de atividade levou Bueno e Campos a se aproximarem de dois artistas especializados na criação de ambientes interativos para museus e mostras educativas. O videoartista Charles Oliveira e o cineasta Alexandre Gonçalves, do Estúdio Laborg, estavam há mais de um ano juntando fotos, vídeos, documentos e muitas histórias sobre águas que o tempo levou. Bueno e Campos ajudaram a amadurecer a compreensão de tantos dados e viraram parceiros da exposição Rios Des.Cobertos, com estreia marcada para o final deste mês de setembro, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.

A obra é integrada por uma maquete que reproduz em detalhes a geomorfologia da área central da cidade. Sobre ela, que pesa quase 300 quilos, serão projetados vídeos, mapas e fotos, ao som de depoimentos, histórias, músicas. Nesse clima de imersão, o visitante poderá ver como os veios d’ água escorrem pelas encostas da avenida Paulista para formar rios canalizados que deságuam no Tietê ou no Pinheiros. Poderá também se surpreender com a influência das águas nos nomes dos bairros. “Ibirapuera quer dizer madeira podre”, conta Charles, que, lendo, descobriu uma infinidade de bicas no centro da cidade. “Algumas ainda estão lá”, diz. O cineasta Alexandre também ficou tocado pelo trabalho. “Procurando água sob o asfalto, achamos uma cidade com morros, várzeas e cachoeiras que desapareceu junto com os rios, mas começa a ser redescoberta”, diz ele. “A metrópole é uma obra aberta, e tudo o que acontece aqui é por vontade das pessoas.” Verdade. E essa vontade muda. Premissas que pareciam modernas e adequadas aos engenheiros da década de 1950 – como remover das cidades toda água de rios e córregos e abrir grandes avenidas para acolher a expansão automobilística e imobiliária – hoje são questionadas pela urgência em melhorar a qualidade de vida nas cidades do século XXI.

O casal de arquitetos Tânia Parma e Massafumi Yamato, de São Paulo, destina parte do seu tempo ao estudo de soluções para tornar a vida urbana mais sustentável. Desde 1999, eles investigam o traçado das nascentes e dos rios de São Paulo junto com o geógrafo Guilherme Schultzer. Seu objetivo com esse levantamento é encontrar meios de reverter a ocorrência das ilhas de calor, uma alteração climática que se manifesta, especialmente, nos períodos mais frios quando há longa temporada sem chuva. “Onde se forma uma ilha de calor há uma elevação de temperatura de cerca de 7º Celsius, em média. Mas a diferença pode alcançar 10º ou 12º em relação a áreas menos povoadas e com mais vegetação na periferia da cidade”, explica Yamato, que ensina Urbanismo na Escola da Cidade, em São Paulo.

Essa variação traz outros danos. Com a elevação de temperatura, partículas em suspensão no ar são atraídas, o que aumenta a poluição e leva à queda da umidade relativa do ar. “Em vez de termos 80% de umidade relativa do ar, o que seria normal e bom para a saúde humana, em São Paulo as ilhas de calor fazem essa umidade cair a 15%, o que é muito ruim. Isso ocorre em locais como o Pari, a Lapa, o Bixiga, entre muitos outros bairros”, explica a urbanista Tânia. O alcance estimado desse fenômeno, que é influenciado também pelos ventos, é de 30 quilômetros ao redor do ponto mais alto da cidade, a avenida Paulista. A saúde é duramente afetada. “Nesses períodos, os pronto-socorros ficam lotados de crianças e adultos com problemas respiratórios”, atesta o médico Igor Polônio, chefe do ambulatório de Pneumologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Dessa categoria fazem parte as rinites, sinusites, gripes, bronquites e a pneumonia.

A origem das ilhas de calor urbanas está na concentração de grandes populações em áreas muito adensadas, repletas de prédios, com vegetação escassa, excessiva impermeabilização do solo (asfaltamento e calçadas) e poluição. Pensando numa maneira de reverter essa situação, os arquitetos decidiram se concentrar no bairro do Bixiga, que soma todas essas características. A ideia era gerar um modelo a ser aplicado em outras áreas, ajustado conforme suas especificidades. Com os mapas na mão, Tânia e Yamato perderam a conta de quantas vezes subiram a ladeira da rua Rocha, que identificaram como parte de uma grota – espécie de anfiteatro natural onde estão as nascentes que irão alimentar os rios Tietê e Pinheiros e as que formam o córrego Saracura Pequeno, que foi canalizado. O coração do projeto é criar ali um pequeno parque de recuperação ambiental urbano, com cerca de dois quilômetros de extensão.

Os arquitetos propõem a abertura das nascentes, a renaturalização do córrego (removendo a canalização para que volte a correr a céu aberto) e a manutenção de uma intensa vegetação nas encostas do rio (a mata ciliar). O efeito desse rearranjo é potente. “Essa mudança promove um aumento da retenção das águas das chuvas e maior infiltração no solo, o que controla os pontos de alagamento, reduzindo o potencial para enchentes, que chamamos de áreas críticas ambientais. O aumento de permeabilidade, retenção e arborização restaura a evapotranspiração das plantas, devolvendo a umidade do ar”, explica Tânia.

Tudo isso leva a temperaturas mais amenas, melhorando a qualidade do ar e a saúde respiratória. “A soma de pequenas ações, como a renaturalização do córrego no Bixiga, pode dar excelentes resultados”, diz a arquiteta. “Se você fizer isso com todas as nascentes que vão para os rios Tamanduateí, Pinheiros e Tietê, teremos uma reversão do processo.” Em 2014, uma versão mais encorpada do projeto foi uma das oito propostas premiadas no concurso Ensaios Urbanos, organizado pela prefeitura e o Instituto dos Arquitetos do Brasil para a discussão de mudanças na lei de zoneamento da cidade e seu plano diretor. Além do estudo do caso do Bixiga, o projeto adaptou o modelo para os bairros da Pompeia, Aclima- ção e Cambuci e incluiu a proposta de criação de microáreas de preservação ambiental urbanas. “Não adotaram exatamente o que sugerimos, mas o projeto serviu de referência para uma mudança que elevou de 15% para 25% a taxa de permeabilidade do solo”, explica Yamato.

Significa que 25% do terreno dos projetos de construção aprovados a partir de 2016, quando foi publicada a lei, deve ser de piso permeável para garantir que a água possa se infiltrar no solo. A medida não pareceu incomodar construtoras que atuam na zona oeste da cidade. “A lei de zoneamento é dinâmica, e vai se aprimorando ao longo do tempo”, diz Yamato, que espera ver a proposta integralmente implementada.

Em suas múltiplas formas, o ativismo em defesa das águas tem também uma ala que prefere atuar de maneira anônima. É uma turma que sai pela cidade em busca de nascentes para serem abertas e transformadas em laguinhos e fontes, mas quer distância da imprensa. Esse pessoal só concordou em falar à Brasileiros com a garantia de que não publicaríamos seus nomes. “É uma medida preventiva. Queremos evitar que o deslumbramento da microfama corroa a relação entre os envolvidos”, resume um dos integrantes, um professor de escola pública de 40 anos. Na Vila Romana, por exemplo, eles escavaram perto de um morro até achar uma fonte que vivia apenas na memória de moradores mais antigos. Restaurada, ela virou ponto de encontro. Histórias como essa podem ser lidas no site desses ativistas anônimos, o hezbolago.wordpress.com. Ali, eles registram cada passo de suas ações e discutem a cidade que temos e a que queremos. “Em vez de sofrer São Paulo, precisamos viver São Paulo”, diz um dos anônimos caçadores de nascentes.

AQUI PASSAVA UM VIADUTO. E ELE FOI IMPLODIDO
O descaso com os rios não é privilégio brasileiro. Dados da Comissão Mundial das Águas apontam que os 500 maiores rios do planeta estão poluídos. Porém há exemplos inspiradores de investimento na limpeza e revitalização de rios como o Sena (França), o Tâmisa (Reino Unido), o Tejo (Portugal) e o Reno, que cruza seis países europeus. De todos esses, talvez seja a renaturalização do rio Cheong Gye Cheon, em Seul, na Coreia do Sul, a que guarda mais semelhanças com o que acontece em São Paulo. Na década de 1950, todo o esgoto de cerca de dez milhões de pessoas era despejado diretamente no rio Cheong Gye Cheon, que representava um grande problema de saneamento e foi canalizado.

Em 1968, a área por onde ele corrria se tornou um centro comercial e seu leito cedeu lugar a um viaduto gigantesco, com seis pistas. Trinta e cinco anos depois, a cidade passou por um importante processo de reurbanização. E ainda que alguns moradores lamentassem o fim das vias expressas, o viaduto foi implodido em 2003 para que as águas do rio voltassem a correr a céu aberto. Em quatro anos, o rio foi completamente limpo e hoje é uma das mais belas paisagens de Seul, com praças, luzes, fontes, peixes, exposições e até gente lavando roupa. A recuperação dos 5,8 quilômetros desse rio custou cerca de US$ 370 milhões e veio associada à implementação de uma nova política de transporte público e a criação de parques lineares, para aumentar a quantidade de áreas verdes. Como consequência da intervenção, a temperatura da cidade caiu 3,6°C.

Nos Estados Unidos, a reabertura do rio Saw Mills, que fica em Yonkers, um subúrbio de Nova York, também revigorou a região. Fechado em galerias na década de 1920, 70 anos depois o rio havia se tornado um depósito de metais pesados, como cádmio e mercúrio, despejados pelas indústrias ao redor. Em 2010, porém, também como resultado de uma intervenção urbana e de pressão da comunidade, voltou a correr ao ar livre por 250 metros, configurando uma disputada área de lazer e moradia. Evidentemente, ações como essas dependem do comprometimento do poder público com mudanças ambientais. Mas tudo começa pelo entendimento do poder transformador que o resgate dessas águas pode ter nas nossas vidas.

COMO ABRIR NASCENTES

Em geral, elas estão em lugares altos ou terrenos inclinados, como barrancos. Mas, para encontrá-las e se certificar de que o achado é mesmo um veio de água, é preciso que reúnam algumas características. Caso contrário, existe a possibilidade de que a água escapando da terra seja o vazamento de cano. Para evitar esse dissabor, o geógrafo Luiz de Campos, da iniciativa Rios & Ruas, tem dicas importantes: “Uma nascente tem um fluxo de água mais ou menos constante chegando à superfície. Quanto à temperatura, você terá a sensação de que ela está fresca em dia quente e morna em dia frio. Outro indício é a presença de musgo ao redor dessa água. A água tratada e clorada impede que o ele cresça.

“A existência de plantas como a taioba e a taboa, que preferem terrenos encharcados, também sugere a proximidade de uma nascente”, diz Campos. Todas essas pistas devem estar presentes. A etapa seguinte é a abertura da nascente. É importante observar se não há uma rede de drenagem sob a água e ver por onde a água da nascente será escoada. “Toda água que entra tem que sair”, diz Campos. E é bom arrumar o local antes do fim da escavação, para conquistar a comunidade. Enquanto uns cavam, outros fazem o paisagismo e colocam peixes para comer as larvas de mosquito. A medida é essencial em tempos de dengue, zika e chikungunya.

ÁGUAS RESGATADAS

O ativismo em defesa das águas está mudando a cara da metrópole paulistana. Conheça algumas situações

PRAÇA DA NASCENTE, POMPEIA
Em 2013, a área começou a ser revitalizada por um coletivo de moradores e ativistas, o Ocupe & Abrace. Onde antes havia lixo e relatos de violência, surgiu um laguinho ao redor da nascente do córrego Água Preta. Hoje, o lugar tem intensa atividade cultural e social

BICA DA VILA ROMANA
Guiados pelas dicas de antigos moradores, ativistas encontram na rua Bárbara Heliodora, na Vila Romana, uma bica que passou décadas enterrada. A perfuração teve início em junho de 2015. A população local passou a cuidar da fonte, que virou um ponto de visitação

LAGOS DA VILA SÔNIA
As nascentes que formam os sete lagos criados na Praça José Oria, na Vila Sônia, em 2015, são de um córrego desaparecido dos mapas oficiais desde 1930. Trata-se de um afluente canalizado do Pirajussara, um dos rios mais importantes da cidade e que corre sob a avenida Eliseu de Almeida, no Butantã

PARQUE DA FONTE DO PEABIRU
No Morro do Querosene, a 30 minutos da avenida Paulista existe um terreno de 39.000 m2 em estado de abandono. Ali há resquícios de Mata Atlântica e as nascentes do rio Peabiru. A luta pela criação de um parque para preservar esse tesouro mobiliza a comunidade há mais de 15 anos

CÓRREGO DO JARDIM BOTÂNICO
Canalizado por décadas, o córrego Pirarungáua, afluente do histórico Riacho do Ipiranga, foi reaberto em 2008. A construção de uma passarela e a recuperação da vegetação nativa transformaram-no na mais nova atração do Jardim Botânico de São Paulo

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sites Paulistanos

Blog da Paisagem
https://blogdapaisagem.wordpress.com/
Quando a Cidade Era Mais Gentil
https://quandoacidade.wordpress.com/
São Paulo Antiga
http://www.saopauloantiga.com.br/

Mapa Muda SP

O Movimento Urbano de Agroecologia de São Paulo (Muda SP) disponibiliza um mapa com a localização de hortas, além de feiras e restaurantes com alimentos orgânicos.

Lixo

Revitalização da Região da Antiga Rodoviária na Luz - SP

A área onde funcionou o Terminal Rodoviário da Luz entre os anos 1960 e 1980 vai receber 1.200 apartamentos com caráter de interesse social (renda familiar até R$ 6 mil) e mercado popular (até R$ 10 mil).
As unidades são voltadas para quem trabalha no Centro. O objetivo é aproximar a população do trabalho e ainda ajudar a revitalizar a região hoje conhecida como Cracolândia.
A utilização do terreno para as obras foi autorizada em março de 2016 pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que transferiu a posse do terreno da Secretaria da Cultura para a Secretaria da Habitação.
Trata-se de mais uma etapa da Parceria Público-Privada (PPP) da habitação no centro expandido, que prevê a construção total de 14 mil unidades no Centro e em bairros próximos.
Segundo o governador, o projeto contribui para a reocupação do Centro, região que concentra quase um quinto dos empregos da cidade, mas tem poucos habitantes (cerca de 3% do total da cidade). Aproximar a população do trabalho "melhora a mobilidade e a segurança", disse Alckmin.
O governador também destacou as vantagens do projeto na área cultural. Isso porque o projeto contempla a instalação da Escola de Música Tom Jobim, que atualmente funciona em um prédio alugado. Além disso, um terreno anexo receberá uma creche, comércio e serviços
Alckmin também assinou projeto de lei enviado à Assembleia em regime de urgência para permitir que o terreno seja considerado uma contrapartida do estado na PPP.